quarta-feira, 15 de outubro de 2008

5º Simpósio Ciência e Arte


Fotografia de Gutemberg Brito (IOC-Fiocruz)

Nos dias 17, 18 e 19 de setembro de 2008 aconteceu o 5º Simpósio de Ciência e Arte, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz em parceria com o Museu da Vida. Participei com a apresentação do poster As imagens como meio e mediação no ensino de História. Este trabalho foi desenvolvido, durante o ano de 2007, no Projeto Oficina do Saber, Programa de Extensão da Universidade Federal Fluminense.

Ao pensar na diagramação do poster lembrei de um filme norte-americano que assisti recentemente chamado À Primeira Vista (At First Sight), do diretor Irwyn Winkler, baseado em um caso clínico escrito pelo neurologista britânico Dr. Oliver Sacks. O filme conta a história de um rapaz que ficou cego acidentalmente na infância e anos depois surge uma esperança dele voltar a enxergar, através de um tratamento experimental. Até então todo o seu conhecimento de mundo era percebido através das sensibilidades do toque, dos sons, dos cheiros, dos sabores e principalmente da imaginação, entretanto quando ele descobre a visão confunde-se completamente pela presença das imagens. Certamente é uma grande metáfora para os que são alfabetizados na linguagem das imagens, mas para o paciente que não consegue distinguir uma maçã de uma imagem de uma maçã, ou melhor, não percebe a distinção entre a realidade e a imagem fotográfica, torna-se uma situação conflituosa e angustiante. Para o rapaz enxergar, ver, olhar a cidade de Nova Iorque torna-se um verdadeiro fardo, pois ele não consegue entender o que vê e ainda não consegue diferenciar um outdoor de uma cena real. Ele precisa tocar nas coisas e nas pessoas para percebê-las porque durante toda a sua vida ele foi alfabetizado por outras linguagens sensoriais.

Mesmo os que são alfabetizados na linguagem visual muitas vezes confundem ou simplesmente assimilam as imagens como realidade, portanto resolvi utilizar uma das experiências do Dr. Oliver Sacks no trabalho apresentado. Ilustrei o poster com uma imagem de uma televisão e dentro dela uma imagem de duas maçãs; ao apresentar o trabalho para o público resolvi levar uma maçã e perguntar o que a pessoa estava vendo e em seguida pedia para que a mesma respondesse o que estava vendo no poster. Todos responderam que viam uma maçã e em nenhum momento diziam ver uma imagem de uma maçã ao olhar para o poster. Isto pode ser pensado como o reflexo da banalização das imagens no nosso cotidiano, não paramos mais para pensar sobre o que vemos e sobre o que significam as imagens. De tão óbvias, as imagens simplesmente invadem as nossas casas, o ambiente de trabalho, as ruas, enfim, estamos cercados e cerceados por imagens que de tão óbvias tornam-se produtos alienados que alimentam o mercado de ilusões.

Nesse sentido, a proposta do trabalho apresentado procurou estabelecer um diálogo com o público através de algumas questões que considero relevantes ao analisarmos as imagens enquanto signo, tais como: o que você vê?, O que foi retratado nesta obra?, Quem são estas pessoas?, Que lugar é este? O que isto quer dizer? Quem produziu? Porque? Quando? Onde foi encontrada? Dentre outras questões investigativas sobre o que estamos vendo e quais são as relações significativas entre a imagem e as demais linguagens.